O avanço das mudanças climáticas e a realização da 27ª edição da Conferência do Clima da ONU (COP 27), em novembro deste ano, fez o termo economia verde ganhar ainda mais visibilidade. Com isso, as questões ambientais, sociais e de governança — termos que compõem a sigla ESG (em inglês) — passaram a ser consideradas essenciais para garantir a sobrevivência humana, além de pautar as análises de riscos e decisões de investimentos, colocando forte pressão no setor empresarial sobre qual será o futuro do planeta. Mas, você sabe o que é economia verde?
De acordo com o especialista em energia renovável e CEO da Renova Energia Solar, Ricardo Dadda, basicamente, na economia verde as questões ambientais são levadas em consideração na hora de se planejar o desenvolvimento econômico, visando um crescimento sustentável e a preservação da natureza. Ainda segundo Dadda, devido à extensão territorial e a diversidade dos biomas, o Brasil pode se beneficiar economicamente e ainda ajudar o mundo a adotar cuidados com o meio ambiente.
“Temos diversas vantagens principalmente quando se fala na geração de energia limpa. Grande território, alta incidência solar, regiões com ventos constantes, além da capacidade hídrica. Imagino em um futuro próximo, explorarmos tecnologias que nos possibilite não só nos deixar autossuficientes energeticamente, mas até mesmo fornecer energia limpa para outros países menos beneficiados pela natureza. Também temos possibilidades de geração de crédito de carbono e hidrogênio verde que pode auxiliar o nosso crescimento econômico”, opina.
Com relação aos desafios para frear o aquecimento global, Dadda destaca que as questões burocráticas e legislativas podem representar obstáculos a serem vencidos. “Para um desenvolvimento rápido da economia verde, é imprescindível que se tenha legislações favoráveis que de fato incentive as pessoas e empresas a investirem nisso. Só o governo investir e regular, acaba não funcionando. Gosto muito do exemplo do sistema de compensação de energia solar, onde gera de fato um benefício econômico para quem investe”, cita.
Já o diretor executivo da JValério Gestão e Desenvolvimento, Clodoaldo Oliveira, acredita em um resgate da credibilidade internacional pelo foco que o governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva prometeu dar ao tema. “Vimos pela presença na COP 27, onde o uso da questão ambiental irá estimular a economia, seja via acesso a mercados internacionais destravando acordos ou pela atração de investimentos para o país”, complementa.
Clodoaldo ainda ressalta que o Brasil é um país de grandes oportunidades e destaca que “precisamos ter sensibilidade para os mercados em crescimento”.
Micro e pequenas empresas têm dificuldades em aplicar práticas sustentáveis
Apesar de ser um tema atual e que tende a ganhar cada vez mais relevância, um levantamento do Sebrae Rio em parceria com o portal Integridade, constatou que 67% dos representantes de Empresas de Pequeno Porte (EPPs) entrevistadas no Estado do Rio de Janeiro, conhecem práticas sustentáveis. Entretanto, apenas 42% aplicam alguma medida relacionada ao tema, revelando uma dificuldade na implementação dessas ideias. O estudo ouviu 390 companhias do setor de serviços, indústria e comércio.
Ainda segundo o levantamento, entre as vantagens citadas após a adoção das práticas sustentáveis, está o aumento de reputação e vendas. Porém, 83% das empresas que participaram da pesquisa informaram que não identificaram o acesso a crédito mais barato como um benefício relacionado.
A pesquisa também constatou que o setor de serviços mostrou-se o mais receptivo às práticas ESG, se comparado à indústria e ao comércio. As empresas de serviços que conhecem algumas das práticas somam 74%; outras 21% desconhecem, mas gostariam de adotar; e apenas 5% não têm interesse por elas. Em seguida, vem o setor da indústria, no qual os percentuais atingem, respectivamente, 67%, 25% e 8%. No segmento do comércio, apenas 59% têm conhecimento sobre elas; 30% não as conhecem, mas gostariam de adotá-las; e outros 11% não demonstram interesse nessa agenda.
Com relação às práticas ambientais, 12% das empresas já utilizam energia de fontes solar ou eólica; e 37% direcionam o lixo para reciclagem. No entanto, um percentual ainda alto utiliza sacolas e copos plásticos, respectivamente 77% e 67%.
Para a gestora de projetos de sustentabilidade do Sebrae Rio, Aline Barreto, a pesquisa evidencia uma tendência de preocupação das empresas com a agenda ESG, destacando que essa adesão é importante para a própria sobrevivência dos negócios.
“A sondagem revela um novo caminho que as empresas de pequeno porte estão tomando, já que durante anos o investimento em questões ambientais, sociais e de governança era visto como uma despesa de baixo retorno para o negócio. Vale destacar também que hoje os consumidores estão mais preocupados com as questões socioambientais e pesquisam as práticas e a reputação das organizações com as quais se relacionam. Aquelas que não estão nesse caminho não são competitivas”, diz Barreto.
Já a editora do portal Integridade ESG, Mariza Louven, ressalta a importância das pequenas e médias empresas na economia brasileira como um todo. “O Brasil é um país de pequenas e médias empresas. É fundamental conhecer um pouco mais sobre a realidade ESG desse segmento que move a nossa economia, inclusive como contribuição às políticas públicas, de fomento e até de comunicação com esses empreendedores”.
Profissões do futuro
Visando se destacar neste mercado, o Brasil tem buscado caminhar para novos rumos. Segundo a Agência Internacional de Energia Renovável (Irena), compilados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), atualmente o país já responde por 10% dos “empregos verdes” no planeta, ficando somente atrás da China, que tem 42% dos 12,7 milhões de postos de trabalho nessa área.
“Sem sombra de dúvidas, será a grande era dos engenheiros eletricistas, gestores de energia, e profissionais ligados ao setor de energia limpa. Hoje já enfrentamos muita carência de mão de obra nesses setores, e a tendência é que essa oferta cresça ainda mais à medida que esse mercado se desenvova”, aposta Dadda.
Já o coordenador do curso de pós-graduação a distância em mudanças climáticas da Unyleya, Ismael Ulisse Miranda, frisa que a nova economia exigirá qualificação por parte dos profissionais. “O profissional para atuar com ESG precisa estar bem qualificado e apto a trabalhar com gestão ambiental e de riscos nas empresas, acordos, negociações. Precisa ter um olhar sistêmico e com entendimento do negócio, visão holística, saber dialogar, ser articulado, entre outras habilidades. As empresas estão de olho e em busca desses perfis, pois agora é questão de sobrevivência”.
FONTE: O DIA