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Mercado do etanol sofre baixa e gasolina ganha espaço com ICMS menor

implementação do teto do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) nos estados e a isenção dos impostos federais sobre o preço dos combustíveis pode ter tornado os cenários da gasolina e do etanol mais dinâmicos e competitivos. De acordo com as projeções da StoneX, a mudança nas alíquotas favoreceu o crescimento de fósseis, o que proporcionou uma paridade acima de 70% em grande parte do Centro-Sul.

A análise da consultoria simula o comportamento de consumo de Ciclo Otto para o último trimestre de 2022.

Com a redução nos valores cobrados nas bombas, a demanda por gasolina demonstrou resultado positivo no primeiro semestre deste ano e deve se manter estável na segunda metade. Outro fator apontado é a baixa elasticidade de valores dos combustíveis fósseis, que significa que os preços, mesmo que altos, têm pouco impacto no consumo.

A StoneX estima um consumo total de hidratado de 15,13 bilhões de litros em 2022, queda de 0,7% em relação a 2021. “Com isso, o share de hidratado no consumo de ciclo Otto apresentaria uma queda de 1,3 pontos percentuais, fechando em 26,4%”, destaca a consultoria.

No primeiro semestre de 2022, a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustível (ANP) registrou que as vendas de gasolina comum totalizaram 19,7 bilhões de litros. O número indica crescimento de 10,8% em comparação ao mesmo período do ano anterior.

Quanto ao etanol, houve redução na demanda pelo biocombustível. No primeiro semestre de 2022, as vendas de hidratado totalizaram 7,7 bilhões de litros, simbolizando queda de 15,7% em comparação com o mesmo período de 2021.

A queda do renovável no mercado está relacionada à escalada que os preços do hidratado registraram em razão da diminuição da oferta com a quebra precoce da safra de cana-de-açúcar em 2021.

“Desde novembro de 2021, quando já não havia mais moagem no Centro-Sul, até o início do novo ciclo canavieiro, os preços do etanol entraram numa escalada que provocou recordes históricos para o biocombustível”, explica a StoneX.

O cenário de oferta baixa fez com que as vendas do biocombustível ficassem prejudicadas e os altos preços resultaram na perda de competitividade do álcool frente ao seu equivalente fóssil. “Desde o final de junho, o mercado foi marcado por uma queda expressiva dos preços da gasolina C ao consumidor final, motivado tanto pela diminuição das alíquotas estaduais, e também por uma deterioração dos preços de venda da Petrobras às distribuidoras”, completa.

Em live semanal da agência EPBR, a consultora em gerenciamento de risco da StoneX, Ligia Heise, ressaltou que a expectativa para o ano que vem é que o mix de produção das usinas seja mais açucareiro e ainda pouco competitivo ao etanol. “Devemos entrar em um ano de superávit de açúcar. Com a safra da cana aumentando, a oferta de etanol no mercado interno tende a aumentar”, afirmou.

ICMS dos combustíveis e impacto

Em junho, foi sancionada a lei complementar 194/2022, que estabelece um teto de 17% a 18% na alíquota de cobrança do ICMS dos combustíveis. O ICMS é um tributo estadual que está inserido no valor da maioria dos produtos vendidos no país. A arrecadação tributária serve, por exemplo, para financiar políticas públicas nos estados.

A diminuição dos tributos acabou beneficiando o mercado de gasolina e, com isso, o preço do etanol enfrentou queda de 13%. Isso fez com que a relação entre os preços dos produtos, em julho, ficasse na média em 68,9%.

Segundo a StoneX, a queda expressiva no valor da gasolina comum ao consumidor final sucedeu também pela deterioração dos preços de venda da Petrobras às distribuidoras. A redução pode ter sido motivada pela cotação internacional da gasolina no mercado, que sofreu declínio.

A consultoria estima que, em 2022, a demanda por gasolina no Centro-Sul será de 29,4 bilhões de litros, ou seja, uma alta de 5,4% em relação ao ano passado. Caso a previsão se confirme, o consumo de gasolina será o maior desde 2017.

Para o hidratado, a StoneX projeta um consumo de 4,3 bilhões de litros, com alta de 31,1%, se comparado ao mesmo período de 2021. Dessa forma, a participação do hidratado no consumo de ciclo Otto apresentaria queda de 1,3 pontos percentuais, fechando em 26,4% ao final de 2022.

Perspectivas futuras

A tendência de alta para os preços do biocombustível ocorre dentro da sazonalidade da safra de cana-de-açúcar no Centro-Sul. Com a colheita já no fim, a oferta de etanol tende a diminuir.

O mercado calcula que o processamento sucroenergético deve continuar até dezembro, época na qual o setor inicia a entressafra. Durante o período, o hidratado pode ter a disponibilidade limitada, gerando alta nas negociações.

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) aumentou suas projeções de consumo de diesel e gasolina para 2022. A revisão reflete um otimismo maior com a economia e os efeitos da desoneração dos combustíveis.

O crescimento nas vendas de diesel é estimado em 2,4% este ano e em 3,6% para 2023. O cenário é maior que o desenhado em agosto, quando a EPE projetava uma alta de 1,2% para 2022 e 1,1% para 2023.

Para 2023, a expectativa é que haja uma desaceleração econômica. A projeção da EPE é de aumento da demanda pela previsão de safra recorde, recuperação do transporte coletivo e a entrada de novos projetos de infraestrutura aquaviária e ferroviária.

O crescimento do consumo de diesel se dá em meio às perspectivas de preços elevados. O Índice de Atividade Econômica (IBC-BR) do Banco Central – a “prévia do PIB” – registrou retração de 1,13% em agosto, na comparação mensal.

Para gasolina, a previsão de aumento em 2022 subiu de 1,6% para 3,1%, refletindo a desoneração do combustível. Para o ano que vem, contudo, a EPE projeta uma retração de 6,1% nas vendas, ante a previsão de queda de 4,7% em agosto.

Desta forma, a gasolina ganha mercado no ciclo Otto, onde concorre com o etanol hidratado. A previsão de demanda total dos combustíveis permaneceu inalterada: crescimento de 1,5% em 2022 e de 0,4% em 2023.

Millena Brasil

fonte: NOVACANA