Um dos temas mais importantes das eleições presidenciais deste ano recai sobre o preço dos combustíveis nos postos brasileiros. No cenário polarizado atual, tanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) quanto o ex-presidente Lula (PT) – os dois que mais pontuam nas pesquisas eleitorais – discutem sobre o assunto em seus discursos, tendo em vista a importância de cativar os motoristas antes dos pleitos.
No último domingo (18), durante a sua viagem para Londres, na Inglaterra, onde foi ao funeral da Rainha Elisabeth II, Bolsonaro publicou nas suas redes sociais um vídeo onde compara o preço da gasolina em um posto local com o valor pago pelos consumidores brasileiros. Na gravação, o presidente não considerou o fato de que um britânico precisa gastar 5,8% do seu salário mínimo para encher um tanque de 55 litros, enquanto que o brasileiro precisa separar 22,5% da sua remuneração.
“O preço da gasolina: 1,61 libras. Isso dá, aproximadamente, R$ 9,70 o litro. Ou seja, praticamente o dobro da média de muitos estados no Brasil. Então, a gasolina é uma realidade, uma das mais baratas do mundo. Um abraço a todos do Brasil. É o governo brasileiro trabalhando por você”, afirmou o presidente no vídeo.
Aproveitando as críticas feitas às recentes vendas de distribuidoras de combustíveis e a falta de investimentos em refinarias, o ex-presidente Lula (PT) afirmou em uma entrevista ao Canal Rural, realizada nesta última quarta-feira (21), que, caso seja eleito, irá tentar fazer o Brasil “voltar a ser autossuficiente” em petróleo. A medida, segundo o candidato, traria maior economia para o bolso dos motoristas. “A BR Distribuidora foi destruída porque era monopólio. Hoje estamos com 392 empresas importando gasolina dos Estados Unidos”, disse o petista.
Pensando na sua popularidade frente ao eleitorado, Bolsonaro, em março deste ano, sancionou uma lei que alterou a distribuição do ICMS para os combustíveis, na tentativa de diminuir o preço dos combustíveis que, na época, chegava a custar até R$ 7,50 para a gasolina comum e R$ 8 para o diesel.
De acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), os consumidores do Distrito Federal pagam uma média de R$ 4,86 na gasolina comum e R$ 6,80 no diesel, que, na última terça-feira (20), sofreu uma nova redução de até R$ 0,26 no painel das bombas. Há uma semana do primeiro turno das eleições, os motoristas que abastecem os seus carros nos postos da capital afirmam que o valor do combustível terá influência na hora do seu voto.
Combustível como fonte de renda
No posto localizado no campus da Universidade de Brasília (UnB), o motorista de aplicativo Rodolfo Silva, de 49 anos, conta que ficou contente com a redução dos preços por parte do Governo Federal e considera que o tema será importante na decisão do seu voto no próximo dia 2.
“Ninguém arrumava uma solução para diminuir o preço da gasolina, era só os políticos e a mídia reclamando que o preço da gasolina estava alto. Aí o presidente conseguiu ir lá e diminuiu o ICMS deixando o combustível mais barato. Embora eu não veja ninguém falando bem do que ele fez, o que eu acho que deveria ser feito, já que só falaram mal, eu reconheço o esforço dele”, explicou o motorista.
Durante o pico do preço dos combustíveis no início do ano, Silva diz que chegava a gastar diariamente mais de R$ 200 abastecendo o seu carro. Ele relembra que passou por dificuldades financeiras por não ter lucro em suas corridas por aplicativo. Por este motivo, o eleitor acredita que o tema é importante para a definição de um candidato. “Muita gente precisa colocar a gasolina no carro pra poder levar comida pra casa. Se o candidato fala que quer colocar comida na mesa das pessoas, ele precisa pensar nisso também”, conclui.
Uma estratégia justificável
O estudante de jornalismo Arthur Vieira, 20 anos, conseguiu um carro próprio neste ano de 2022, e acredita que ter um veículo para se locomover se relaciona com a liberdade de ir e vir, garantido pela Constituição Federal. Por isso, o jovem considera que o preço dos combustíveis possui uma grande importância na hora do voto, principalmente ao analisar que os candidatos sempre inserem o tema em suas pautas.
“Podemos ver que até tem candidatos que se baseiam em aumento ou diminuição do preço da gasolina para poder fazer campanha. Para você ver o quanto eles consideram isso e o quanto isso é importante para o povo, e também para o voto do brasileiro”, afirma o eleitor.
Perguntado sobre as estratégias do Governo Federal para diminuir o preço dos combustíveis nas bombas, e assim buscar um aumento da popularidade de Bolsonaro antes das eleições, o estudante avalia que a estratégia acaba sendo eficaz para atrair novos eleitores. “Se eu fosse um candidato, eu também falaria da questão da gasolina, e, caso o meu governo estivesse em uma situação boa, eu usaria a gasolina também como uma promessa. É justificável fazerem isso”, diz.
Benefícios temporários
Ao sair de um posto de gasolina em Planaltina, o professor Humberto Pires, de 43 anos, diz ter aproveitado uma promoção para encher o tanque do seu automóvel com o litro da gasolina por R$ 4,90. O motorista diz estar aliviado com a recente diminuição dos preços, mas é crítico com a intenção do Governo Federal. “É o famoso presente com prazo de validade. Se o povo for na dele [Bolsonaro], e ele ganhar, depois das eleições o preço vai voltar a ficar lá em cima”, diz o eleitor.
Humberto se auto avalia como um eleitor antenado ao mundo político, e diz estar ciente das estratégias eleitorais que envolvem os valores dos combustíveis. Para ele, os brasileiros precisam se lembrar dos preços que apareciam nas placas desde o início do mandato do presidente em 2019, e não só das diminuições que “ocorrem às vésperas das eleições”.
“Os brasileiros pagaram muito caro por bastante tempo, e até hoje pagam um absurdo. R$ 5 não é barato como ele [Bolsonaro] diz, é só menos caro que antes. O povo não pode ter uma memória curta: se o preço caiu é porque alguém aumentou ele. O jeito que ele [Bolsonaro] diminuiu, negociando pra ficar baixo até o final do ano, é só pra tentar mostrar que fez algo até passar a eleições”, conclui o professor de Planaltina.
fonte: JORNAL DE BRASILIA