Segundo denúncia do Ministério Público do Rio, o policial militar Claudio Rafael Bernardino, apontado como chefe de uma quadrilha que furta combustíveis em dutos da Transpetro, teria usado uma camisa da Polícia Militar do Rio para esconder ferramentas que eram usadas para praticar os furtos. Claudio foi preso na quinta-feira por agentes da Polícia Civil e do MPRJ, em Itaguaí. Além do PM, mais dois integrantes do grupo foram presos e um está foragido.
A investigação do caso teve início a partir de denúncia da Transpetro, que constatou furto de petróleo de seus dutos, em janeiro. Após nova tentativa de furto, uma equipe da Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD) seguiu até o local e, ao desembarcarem da viatura, foram atacados por disparos. Na ocasião, os policiais encontraram em um carro abandonado no local documentos, telefone celular e munição.
O GLOBO teve acesso a denúncia, entregue à Justiça no dia 26 de agosto. Um dos trechos do documento relata o episódio e destaca, entre outros itens encontrados no veículo, um conjunto de ferramentas usadas no furto de combustíveis encontrado enrolado em um camisa da PMERJ.
“O veículo estava estacionado com as portas fechadas, porém destravadas, sendo encontrado no seu interior e apreendido , uma bolsa tipo “necessaire” contendo uma carteira preta com cartões bancários e uma carteira funcional em nome do Policial Militar CLAUDIO RAFAEL DA SILVA BERNARDINO, […] Foram encontrados no local da trepanação uma camisa com a inscrição “POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO”, que estava sendo utilizada para esconder a válvula secundária da derivação clandestina, uma enxada, uma cavadeira, uma chave de grifo grande e um serrote.”
Segundo o MP, durante as investigações, foi identificada uma organização criminosa que praticava furto qualificado de petróleo de dutos da Transpetro. O PM Claudio Rafael Bernardino é apontado como o chefe da organização, integrada também pelos denunciados Carlos Alberto Rabelo Costa; Claudio Henrique Bispo de Rezende; Saulo Lemos e Silva; Gabriel Lucas de Almeida Silva, o Tartaruga; e Jhony Soares França. Todos foram denunciados por organização criminosa e furto qualificado.
As investigações indicaram que Claudio Rafael Bernardino teria a função de organizar, planejar, coordenar e executar todas as ações da quadrilha, que incluíam a ocupação de um sítio próximo ao trajeto dos dutos de petróleo, a extração e a exploração do combustível, com a venda de gasolina para postos.
Segundo o promotor Rogério Lima Sá Ferreira, do Gaeco, o policial militar Claudio Rafael tinha um sítio no bairro Campo Alegre, em Nova Iguaçu. Nas proximidades, existe um duto da Transpetro. A organização criminosa vislumbrou a ideia da retirada do combustível cru.
— Nos dias 21, 28 e 29 de janeiro deste ano, o Centro Nacional de Controle Logístico da Transpetro constatou despressurização do duto Orbig, por onde passa petróleo. No dia 28 colocamos uma câmera (nas proximidades do duto) e verificamos a passagem de veículos da quadrilha. No dia 29, teve uma nova despressurização a polícia foi para o local, teve troca de tiros e a polícia apreendeu um caminhão conectado no duto. (A partir daí) Chegamos ao PM Claudio Rafael, o líder dessa organização. Ele tinha um sítio nas proximidades (do duto) que servia como base operacional deles. O braço direito dele é o Carlos Alberto. Além disso, ele contratava olheiros (o Cláudio Henrique e o Jhonny). Por sua vez, o motorista era o Saulo e o Gabriel fiscalizava o local — relata o promotor.
Segundo Lima Sá Ferreira, um único furto deu lucro de R$ 300 mil aos bandidos.
— No primeiro furo, no dia 21, eles tiraram aproximadamente 40 mil litros. No segundo, no dia 28, 9 mil litros e no terceiro furo, no dia 29, eles tiraram 102 mil litros de petróleo. Em um único furo, a Petrobras estimou o prejuízo de R$ 300 mil.
Para o promotor, essa prática criminosa tinha despencado com as operações polícias e do MP, mas voltou agora. Em janeiro, foram três furos e em junho mais um. “Não sabemos se é o mesmo grupo, mas, com essas prisões acreditamos que isso reduza”.
— Na outra operação, o petróleo ia para a refinaria clandestina. Encontramos a época uma refinaria em Caxias. Mas, o grosso é em São Paulo. Ainda não se conseguiu chegar ao destinatário do petróleo subtraído por essa quadrilha. A investigação vai continuar para sabermos quem são os outros envolvidos: como quem compra; os técnicos que furam, já que eles são qualificados para isso; os motoristas; e quem recebe.
Para evitar chamar a atenção da Petrobras e da Polícia Civil, segundo o MP, o bando que furta combustível cru comete os crimes em regiões afastadas dos centros urbanos. O promotor alerta para risco de um acidente gravíssimo.
— Normalmente, eles procuram locais afastados e com poucas casas. Esse sítio era afastado e estrategicamente localizado perto de um duto. Havia risco de acidente grande e muito grave. Isso causa um prejuízo humano e material. Uma menina já perdeu a vida em Caxias por conta disso. O que vale ressaltar é que essa quadrilha é armada. Eles são violentos, confrontam com as forças de segurança e não medem esforços para obter lucros. Vão responder por organização criminosa e furto qualificado — detalhou.
Os mandados foram expedidos pela 3ª Vara Especializada em Crime Organizado do Tribunal de Justiça do Rio e foram cumpridos na capital fluminense, em Nova Iguaçu, Itaguaí, Duque de Caxias, Queimados, São João de Meriti e Cachoeira de Macacu.
FONTE: O GLOBO