O crescimento da demanda por óleo diesel no mundo, durante o segundo semestre deste ano, já começa a pressionar o combustível, provocando, segundo especialistas, um “descolamento” da variação no valor desse derivado do barril de petróleo.
Dados da plataforma investing.com levantados pela CNN mostram que no mês de agosto, por exemplo, o petróleo do tipo Brent apresentou queda de 13% o barril, enquanto o óleo diesel apresentou alta, em média, de 4% no mesmo período.
Dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostram que no Brasil, nos últimos cinco anos, a importação de diesel foi maior no segundo semestre do que no primeiro.
Nos primeiros seis meses de 2021, o país impostou 6.400,3 m³ do combustível, enquanto nos últimos seis meses do mesmo ano, esse volume foi de 7.999,5 m³. Isso representa uma alta de 24,9% na quantidade desse combustível que entrou no país.
Segundo Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra- Estrutura (CBIE), o aumento no consumo de diesel na segunda metade do ano ocorre por conta da época de colheita e exportação das safras agrícolas, gerando um movimento de sazonalidade do consumo entre o primeiro e o segundo semestre.
Enquanto isso, a Rússia interrompeu indefinidamente o fornecimento de gás natural para o continente europeu através do gasoduto Nord Stream 1. De acordo com Pires, isso irá pressionar a demanda mundial pelo combustível, já que o óleo diesel é um substituo imediato para o gás natural como combustível para a indústria e para a energia elétrica na Europa.
“Não acredito que tenha risco de faltar diesel, mas deve haver um aumento no preço. Você tem uma compra de diesel para estocar, para prevenir de possíveis sanções mais duras da Rússia para a Europa. Quando você aumenta a demanda, mas não aumenta a oferta, sobre o preço.”, afirma Adriano Pires.
Pires explica que por conta desse “descolamento”, inclusive, pela primeira vez é possível observar, no Brasil e na maioria dos países, que o diesel está mais caro que a gasolina, pela alta demanda em torno do óleo diesel.
O professor e especialista na área de energia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), David Zylberstajn, afirmou que um aumento na demanda internacional certamente causará um aumento no preço do diesel, e isso irá se refletir no país.
Entretanto, Zylberstajn destaca a importância da Petrobras equiparar os preços internos ao mercado internacional. Mauro Rochlin, economista da FGV, reiterou a importância de a Petrobras manter política de preço, uma vez que isso não afetará o abastecimento do mercado.
“O problema pode acontecer caso a Petrobras comesse a praticar preços abaixo do mercado internacional, com isso importadores vão se retrair, e a empresa vai ter que assumir isso.”, destacou.
De acordo com a ANP, durante o segundo semestre de 2021, a dependência externa de diesel do Brasil foi de 28,3% do consumo interno do combustível. Ou seja, de todo o volume de combustível consumido no país no período, 71,7% foram refinados internamente.
FONTE: CNN Brasil